UM DESABAFO SOBRE SER SOZINHA



Ontem fui até o Subway para comer um dos meus lanches favoritos, um habito que adquirir a algum tempo. Todos os domingos, duas vezes por mês, vou até lá no começo da noite sozinha para fazer a mesma coisa. É uma "rotina" já conhecida até pelas próprias funcionarias da lanchonete que sempre me vem por lá, SOZINHA.

Tudo corria bem, eu comia meu lanche muito feliz pelo pequeno momento compartilhado comigo mesma. Até que duas senhoras de meia idade sentaram na mesa ao meu lado e começaram a conversar entre si, estreitando os olhos para mim em alguns momentos. Foi até que uma delas me perguntou "Você está esperando seu namorado?" A pergunta me pegou de surpresa, mas fui gentil e respondi que não, não estava. Achei que a conversa seria encerrada, até que ela novamente perguntou "Mas você ta esperando uma amiga? Um colega? Um paquerinha?" Novamente respondi que não, que não estava esperando ninguém, que estava sozinha. Foi quando ela olhou para a mulher em frente a ela e disse "Oh coitadinha! Sozinha!" Elas me convidaram para sentar com elas, e eu educadamente neguei agradecendo pelo convite. Saboreei cada pedacinho do meu lanche com toda a calma do mundo, (ignorando os olhares das duas mulheres ao meu lado) enrolei na mesa por vários minutos (assistindo Faustão) para só depois levantar e ir em paz de volta para casa.

 Foi quando comecei a pensar que a um tempo atrás esse confrontamento teria me incomodado demais, e que provavelmente eu teria saído de lá o mais rápido possível, chorando. A ideia de ser sozinha era insuportável para mim. Eu sempre tinha que estar com alguém por perto, uma amiga para compartilhar um lanche, alguém para ir comigo na lojinha de roupas para escolher uma blusa nova. Ficar sozinha em casa era um pensamento sufocador. Era como se a casa toda fosse me engolir. Eu confesso que olhava para as pessoas sozinhas em lanchonetes, restaurantes e cinema e pensava exatamente como essas senhoras "Coitada, vou lá abraçar ela, ta sozinha." Hoje, os momentos de pura plenitude que eu vivo  são quando eu faço algo SOZINHA!

Esse pensamento começou a mudar quando eu olhei para o espelho e não me reconheci mais. Foi quando eu perguntei "Quem é você?" e a única resposta que eu tive foi o silêncio. O silêncio foi tão ensurdecedor que me fez acordar, olhando para a completa desconhecida do reflexo a minha frente.

Nos primeiros momentos eu estava tão assustada que achava que não ia conseguir, achava que o "ser sozinha" era para pessoas que tinha fracassado em exatamente tudo e por isso estavam onde estavam. Mas os dias foram passando e eu comecei a ouvir uma pequena voz em meio a todo o silêncio,  a voz de uma garota de 16 anos que estava perdida em meio a pura negatividade que ela mesma fez questão de se expor. Eu comecei a ouvir a garota que se amava, que tinha o riso fácil e que não dava a mínima para o que os outros pensavam dela. Comecei a ouvir a garota que tomava as decisões por conta própria e não para agradar os demais. Eu comecei a me ouvir e isso foi a maior descoberta que eu fiz em anos!

Comecei a reparar nos sutis detalhes da Beatriz que eu costumava ser. Pequenas brechas na minha personalidade que estavam escondidas a tanto tempo que eu nem me lembrava que existiam. Comecei a relembrar do que eu gostava das pequenas coisas que me agradavam. De como o amor da minha família era importante para mim, e como eu me sinto completa com eles. Comecei a aceitar que não tinha nada de errado com as roupas que eu usava, que meu shorts não era "curto demais" e que eu amava como ele ficava no meu corpo. Que eu podia sim usar um vestido longo e me sentir bonita dentro dele.

Estar sozinha me fez reconhecer o prazer de poder demorar o quanto quiser para decidir entre Hambúrguer ou Comida Japonesa e comer sem me preocupar se a pessoa que estava comigo queria ir embora logo. De sentir um alivio tremendo por  poder ir ao shopping e viajar de loja em loja, olhar e provar quantas roupas eu quiser sem tem que ouvir um "Para de entrar em todas as lojas, vamos logo!!!" Estar sozinha me fez não ter pressa, me fez respeitar meus horários, minhas vontades, meu próprio tempo. Me fez sorrir com o fato de que eu posso ouvir as musicas que eu quiser no meu fone, dançar e cantar errado sem ter ninguém para me julgar por fazer isso, ou para dizer que as musicas são ruins e me obrigar a ouvir algo que eu não quero. Que eu posso escolher o filme mais idiota que existe no Netflix e assistir mais de 10 vezes se eu desejar. Estar sozinha me fez querer mudar minha rotina, mas não pelos outros e sim por mim, e só por mim.  Me lembrou que é DEMAIS ir no cinema e assistir um filme sentindo cada pequena emoção, sem ter ninguém do lado para me brecar de sentir. Estar sozinha me revelou exatamente isso;  Que não existe ninguém para me brecar de sentir absolutamente nada!

Não me entenda mal, eu AMO estar rodeada dos meus amigos, eles me ajudam a ver a vida mais colorida, me ajudam a enfrentar barras inimagináveis e me fazem sorrir para um mundo onde hoje, fica cada dia mais difícil sorrir verdadeiramente. Mas a sensação de estar rodeada por mim mesma, essa ninguém nunca vai conseguir superar. 

Pode parecer loucura, mas hoje eu acredito que TODO MUNDO deveria passar um tempo sozinho, apenas consigo mesmo. Um tempo para se sentir confortável na própria pele, para andar na rua e observar cada pequeno detalhe, sentar em um fim de tarde em um banco de uma praça qualquer apenas para sentir o vento no rosto, só para ver as folhas das arvores caírem no chão.

Como alguém pode saber quem realmente é se não se sentir confortável estando sozinho consigo mesmo?

Agora, estar sozinha não é sinônimo de profunda isolação social, não é ser a chata que não se mistura, não é o fracasso. Estar sozinha e REDESCOBERTA, e das grandes! É paz de espírito, é o famoso amor próprio que todo mundo tem e que em algumas pessoas ainda se mantém escondido de baixo de uma montanha de regras impostar por gente que não tá nem ai por você. 

Eu sou sozinha, e sou muito feliz assim. Afinal, como diz a minha avó "Antes só, do que mal acompanhada." E mesmo Jamil dizendo que "Uma estrela só não é constelação" a estrela ainda brilha, e me atrevo a dizer que as vezes o brilho é muito maior. 



Comentários

  1. Eu to emocionada com esse texto, como você é sensível meu amor, eu já passei por isso e o nosso redescobrimento realmente é libertador ♥ você é maravilhosa ♥ te amo

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  2. Olá como vão.
    Passei aqui pra contar que compartilhei seu blog lá no meu blog hoje com meus seguidores para que eles conheçam aqui também
    Meu blog é www.casadafafis.blogspot.com.br
    Beijos.

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